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Entrevista às autoras de "As cinco direções de um corpo"

22/07/2022 / Jacira Fagundes

      A narrativa a cinco mãos, intitulada “As cinco direções de um corpo” já se encontra à disposição do público leitor. Em PDF, com acesso gratuito pelos links abaixo.

      Após  fechamento do texto final, às cinco autoras foi solicitada entrevista com 5 perguntas. As respostas enviadas pelas autoras estarão aqui apresentadas na medida em que  forem enviadas. Contamos assim, com mais uma referência quanto ao trabalho realizado, contribuindo para a leitura eficaz da narrativa em questão.

  Links de acesso á narrativa:

www.bestiario.com.br/as_cinco_direcoes.pdf

 https://abre.ai/5direcoes

Perguntas:

1. Ao longo desta experiência de escrita, na construção de “As cinco direções de um corpo”, o que te foi mais desafiador?

2.      E o que foi mais confortável?

3.      Durante o processo de criação da tua narrativa em especial, recorreste às demais narrativas do grupo de autoras? Sempre ou eventualmente?

4.      A partir das demais narrativas, o que foi considerado ou agregado   à  construção do teu texto? Em que sentido houve correlação?

5.       Dá tua opinião final sobre esta experiência de escrita a cinco mãos.

 

 

 

 

Sônia Coppini

 

 

1.      Ao longo desta experiência de escrita, na construção de “As cinco direções de um corpo”, o que te foi mais desafiador?

            O desafio maior foi seguir na construção e na coerência do personagem, à medida que a narrativa era desenvolvida, de forma a abarcar as propostas do narrador absoluto,  incluir referências das outras narrativas e personagens e chegar a um desfecho individual, de acordo com a lógica do personagem-guia.

2.      E o que foi mais confortável?

            A liberdade de criação de cada episódio, que não seguia um padrão único em relação às outras narrativas, mas a fluência específica dentro do tempo, do espaço e da natureza própria do personagem, que definiam as ações desenvolvidas.

3.      Durante o processo de criação da tua narrativa em especial, recorreste às demais narrativas do grupo de autoras? Sempre ou eventualmente?

            Sim, acompanhei e recorri, eventualmente, a fatos, espaços ou características dos demais personagens, que serviram de inspiração ou de reforço para as ações e conflitos geradores do desenrolar narrativo.

4.      A partir das demais narrativas, o que foi considerado ou agregado   à  construção do teu texto? Em que sentido houve correlação?

            Apesar de terem partido de um mesmo tema, as narrativas seguiam em  paralelo, sem a intencionalidade de chegarem a um mesmo termo, e isto propiciou que alguns elementos das outras autoras fossem inseridos no texto, sem a pretensão de interferência direta nas demais narrativas, mas como pontos de referência e de contato.  Agreguei à narrativa a figura de Joseph (personagem de Clotilde Grassi), como representação de um aspecto espiritual do personagem Adenor; a personagem Beatriz (de Terezinha Lanzini), como caráter de leveza feminina em contraponto à virilidade rude de Adenor; a prisão arbitrária de Umut (da narrativa de Magaly Andriotti Fernandes), como um acelerador da atitude reativa de Adenor, frente à injustiça; e a rejeição, o mistério e o posterior fascínio de Adenor nos elementos do Parthenon (ambiente da narrativa de Maurícia Mees), relacionados ao local de trabalho do suposto assassino, mas também local da fonte da deusa Athena, similar à fonte de lágrimas imaginárias da Virgem.

 

5.       Dá tua opinião final sobre esta experiência de escrita a cinco mãos.

            A experiência propiciou uma forma de criação coletiva sem que necessariamente trabalhássemos num texto único, são vozes individuais que vez por outra se encontraram, conversaram através de textos diversos, apresentaram elementos semelhantes, mas cresceram em cinco direções de espaço, tempo e estilo narrativo, partindo de um mesmo foco, mas alcançando soluções diferenciadas, segundo a visão do personagem e de sua criadora. Uma experiência que me favoreceu, como escritora, a romper a solidão do trabalho literário.

 

             Clotilde Grassi

      1  Ao longo da escrita, o mais desafiador foi escrever a história dentro da proposta previamente anunciada. Tornou-se um misto de criatividade, seguindo alguns parâmetros traçados.  Podia voar com certos limites. Forçoso elaborar uma história inusitada com freios e contrapesos. 

      2. O mais confortável foi seguir a linha mestra por mim traçada conforme havia imaginado a vida e a trajetória do meu personagem com suas características por mim elaboradas.

      3. Recorri, eventualmente, às narrativas das colegas, para saber se eu estava muito fora da proposta. O que percebi foi a diversidade de rumos que cada história tomou a partir de um ponto comum. 

      4. Pude agregar à minha narrativa histórias novas e criativas como minhas colegas faziam.  Observando os escritos das demais perdi o medo de me aventurar por fatos e situações nunca antes imaginadas. A correlação ficou por conta do enunciado inicial para a construção da história. Um fato único com suas peculiaridades que a ele todas nos submetemos. 

      5. Foi uma experiência inesquecível, bem como desafiadora. Levou as escritoras a pensarem muito mais antes de escrever, atentar para o contexto geral proposto sem perder a criatividade, dando asas infinitas à imaginação. Uma experiência inédita. Ressalto a produção final com seus ajustes coletivos sem perder a essência da criação particular de cada uma das escritoras. 

 

Magaly Andriotti Fernandes.

 

1.O mais desafiador foi interagir com os textos das demais escritoras. Achar conexões entre os diversos personagens e propor uma inserção. Não consegui fazer todas as produções. Para mim o relato inicial levava certamente a um crime, ou melhor, uma cena de crime. E lendo a produção das demais escritoras, a criatividade abre possibilidades infinitas. 

 

      2. E o que foi mais confortável foi a construção do meu personagem principal. Por ter trabalhando muitos anos no sistema prisional, vi ali uma perspectiva de usar a ficção para falar daqueles que vêm presos equivocadamente por uma questão social. 

      3. Durante o processo de criação da tua narrativa em especial, recorreste às demais narrativas do grupo de autoras? Sempre ou eventualmente?

        Recorri eventualmente. Esse processo de escrita se deu durante , penso eu , o pior momento da pandemia, e eu estava muito introspectiva. Terminai acessando a produção da Terezinha com quem tenho maior proximidade, pelo tempo de convívio no grupo, e por me identificar com sua escrita.  Na Clotilde , por exemplo, não estava conseguindo entender onde entraria a cena inicial proposta.  E minha energia de sair do meu próprio casulo era restrita.  Acelerei meu ritmo de escrita, e em algumas ocasiões produzindo episódios antes, não aguardando o ritmo do grupo.   Foi um grande aprendizado  poder produzir uma narrativa maior na coletividade.

 

        4. A partir das demais narrativas , o que foi considerado ou agregado à construção do seu texto? Em que sentido houve correlação

         Houve correlação sim. Sônia, penso eu,  foi uma das escritoras que entrou de cabeça na consigna, e pegou a essência de cada conto particular . Eu, depois que interagi com a personagem Beatriz da escritora Terezinha, que fui pensar que idade tinha ela? Que expectativas eram aquelas do Umut para com uma mulher que conheceu por um aplicativo? 

 

        5. Dá tua opinião final sobre esta experiência de escrita a cinco mãos.

          Depois de pronta, lendo o resultado final, pensei que poderia ter interagido mais com todas as demais autoras. Uma experiência ímpar, criativa e instigadora. Eu, no período de construção como já falei anteriormente. estava muito introspectiva e não consegui aproveitar todas as possibilidades. O resultado ficou para além do esperado.